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Mouraria: o bairro mais multicultural de Lisboa

Atualizado: 5 de nov. de 2024

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Largo dos Trigueiros, Lisboa, Portugal.

Uma Imersão na Alma da Cidade


A cada dia, mais brasileiros desembarcam em Portugal. Mas será que todos conhecem as histórias entrelaçadas pelos becos e escadarias do país?

Na capital, por exemplo, encontra-se um dos bairros mais tradicionais e multiétnicos de Lisboa - a Mouraria.

O nome é uma lembrança dos mouros, termo aplicado aos muçulmanos que se estabeleceram neste ponto da cidade após a conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques no ano de 1147, até serem expulsos do território português quatro séculos depois.

Seiscentos anos se passaram e este típico bairro lisboeta continua sendo o lar de várias nacionalidades, desde chineses, indianos e paquistaneses até moçambicanos, entre outros.

Localizada entre a Praça Martim Moniz e o Castelo de São Jorge - ambas com paradas de metrô e ônibus muito próximas - esta zona histórica é um verdadeiro mergulho no coração da capital!


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Nos detalhes desgastados, a beleza resiste, revelando a riqueza de sua história.

A Realidade por trás da Beleza


Nos últimos anos, vários centros históricos de Portugal ganharam vida nova com muitos investimentos públicos e privados.

Após anos de esquecimento, um processo de revitalização de Lisboa começou a ser feito entre o final dos anos 90 e início de 2000, melhorando consideravelmente a segurança das áreas mais antigas.

As melhorias trouxeram de volta o turismo e a redescoberta das potencialidades do bairro, que oferece desde bares, restaurantes e lojas multiculturais até casas de fado, museus e construções centenárias.

Muitas das reformas que contribuíram para o embelezamento das edificações foram realizadas por investidores estrangeiros, que, inicialmente, adquiriram prédios degradados para revitalizá-los. Parte deles com o objetivo de transformá-los em imóveis para temporada, o que gerou um aumento exponencial do preço dos aluguéis.

Uma parcela significativa da população portuguesa tradicional que mora nessa área são famílias com rendas inferiores a média, e, que - com a especulação imobiliária - foram praticamente expulsos de suas casas por não terem condições de pagar seus senhorios.

Andando pelas ruas do bairro é possível, ainda hoje, sentir que este assunto é de grande interesse por movimentos de defesa dos moradores, gerando debates acalorados na cidade.


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Caminhando pelas Ruas e Becos Históricos


Para conhecer mais profundamente as raízes dessa região, é recomendável seguir as placas informativas do Percurso Histórico São Cristovão Mouraria Intendente.


Trata-se de um trajeto sinalizado que conta um pouco da história das principais ruas, praças e becos da Mouraria e seu entorno - as regiões de São Cristóvão e Intendente - outros bairros tradicionais da capital.


Essas três zonas são o berço da cultura portuguesa, e abrange parte das freguesias de São Vicente e de Santa Maria Maior - sendo essa última, a localização do bairro mais antigo se Lisboa, o Alfama.


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Escadinhas de São Cristóvão, Lisboa.

Saindo do metro Martim Moniz e seguindo pela Rua da Madalena, encontramos o Largo de São Cristóvão, que abrange vários pontos turísticos interessantes, como as Escadinhas de São Cristóvão e a Igreja de mesmo nome.

Atrás dela, o Largo da Achada, berço de uma das casas mais antigas de Lisboa - sobrevivente do grande terremoto de 1755. E próximo ali, o Beco das Gralhas - um pequeno largo escondido de casas populares com raízes na arquitetura medieval. Um verdadeiro achado!

Esgueirando-se por essas vielas, becos e escadarias é como voltar no tempo, e experimentar aquela sensação de novidade e encantamento com o ambiente novo.

As roupas estendidas nas sacadas, as coloridas fachadas, os pequenos ruídos de vida por trás de cada casa... Uma comunhão de imagens e sons que desperta a curiosidade do viajante e o motiva a continuar o longo percurso à frente.


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Largo da Achada, Mouraria.

Arte como Guardiã da Memória


Outro projeto interessante dessa zona da cidade são as homenagens, em formato de instalação nas paredes, a alguns dos residentes mais conhecidos dos bairros Mouraria e Alfama.


A responsável por essa bela mostra ao ar livre é a artista britânica Camilla Watson, que, após passar um tempo em Portugal, decidiu retribuir os bons momentos que viveu em Lisboa, ajudando no processo de revitalização e desestigmatização desta região.


Esse verdadeiro museu a céu aberto conta as histórias de cada pessoa que viveu ou vive ali.


O registro da artista é importantíssimo para preservação da memória do lugar, e um ato de resistência à especulação imobiliária que aflige os antigos moradores.





O Direito à Cidade


O trabalho de Camila Watson me fez recordar a ideia de "Direito à Cidade" criada pelo filósofo Henri Lefebvre que diz:"todas as pessoas devem ter direito a usufruir e participar ativamente da cidade em que vivem".


Isso significa que todos devem ter acesso a serviços básicos, como saúde, educação e moradia, bem como a espaços verdes e culturais.


Agora, como isso se relaciona com Slow Travel?


Bem, se pensarmos em viagens mais lentas e contemplativas, isso significa ter tempo para explorar a cidade e conhecer seu ambiente.


E é exatamente isso que o "Direito à Cidade" propõe - dar a todos a chance de explorar e se conectar com a cidade em que vivem. Em outras palavras, tornar a cidade um lugar verdadeiramente acessível e amigável para todos.

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Lisboa é uma cidade para ser contemplada.

Reflexões de uma Viajante Lenta


Como viajante lenta, pude descobrir muitas das preciosidade nesse rico passeio pela Mouraria em Lisboa.


Os becos, as escadarias, as vielas, os sons, os aromas, os moradores - tudo nesse lugar evocava um tempo nostáugico que não vivi - mas que estava guardado em algum lugar do meu inconsciente coletivo.


Perder-se pelas ruas e apreciar a autenticidade de cada cantinho, sem sequer ver o tempo passar, é o verdadeiro presente da Viagem Lenta.


É algo que só é possível experimentar quando você se coloca em um estado contemplativo de caminhada, no qual seu corpo e sua mente absorvem o entorno de maneira livre, atenta e generosa.

Confesso que senti um calor no coração ao saber do interesse e esforço de pessoas que compreenderam a importância da preservação dos patrimônios históricos deste lugar.


Acredito que isso deveria servir de inspiração para tantas outras cidades nas quais conheci nesses últimos anos.


Sem preservar a memória, a cultura e a arquitetura do lugar, como as cidades poderão continuar sendo habitáveis e saudáveis para seus moradores e interessantes para os viajantes?


Que tal pensarmos um mais pouco nisso?


P.S.: Nos vemos no próximo destino!


📝PRINCIPAIS REFERÊNCIAS DO POST *:

Lisboa Secreta - Guia Online

National Geographic Portugal

Site Oficial da Artista Plástica Camila Waton


🐌 GUIA BÁSICO DO SLOW TRAVEL:



*Nota: Texto100% embasado em pesquisas.

*Artigo © 2021–2024 Viajar Sem Pressa. Todos os direitos reservados.

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